sexta-feira, 30 de novembro de 2012
Sofonisba, O erro de Tomás de Aquino, parte 1
Sofonisba correspondeu-se com Michelangelo. Teria cerca de 22 anos.
Enviou-lhe, em certa altura, um delicado desenho de uma rapariguinha risonha e pediu-lhe opinião. O Mestre respondeu que gostava de a ver desenhar um rapaz a chorar, assunto muito mais difícil que uma sorridente menina.
Sofonisba respondeu-lhe assim:
com o desenho aqui ao lado ( preservado graças a Vasari)
uma rapariguinha ri-se ternamente dum rapazito choroso picado por um camarão.
Esta capacidade de resposta com inventividade, naturalidade e imaginação não passou despercebida aos seus contemporâneos. Tanto que este desenho foi preservado. Conseguir responder ao "Il divino" com este despacho não era comum.
Sofonisba era uma mulher com o dom de criar, de inventar, de dar aquela aparência da emoção do verdadeiro da vida, conseguia ser assim uma artista iluminada pela "invenzione" divina.
Isto numa época dominada pela filosofia aristotélica, tão elaborada por Tomás de Aquino em que todo o esforço de Criar se dizia no masculino, incluindo o esforço da procriação. A mulher era vaso, era útero e como artista o elogio máximo seria o de ser considerada uma boa copista, mas nunca, realmente, uma criadora.
Que quebra cabeças para os críticos e fazedores de opinião do seu tempo deve ter sido esta mulher, nobre, independente e com este dom.
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Sofonisba Anguissola, Il miracolo di natura (1532-1625)
Nasce em 1532 em Cremona, na Lombardia. Esta jovem italiana de olhos claros, segura de si, com uma sempre estudada compostura olha-nos dessa longínqua Renascença e mostra do que é capaz.
Como nobre aristocrata estudou Latim, Matemática, Literatura, Ciências, Filosofia, Escrita, Música, Desenho e Pintura. Teve liçoes privadas com o artista Bernardino Campi e posteriormente Bernardino Gatti.
Tinha nas suas mãos a tão desejada"invenzione", o espírito criador do artista que transmite emoções e espelha o sopro divino da inspiração verdadeira.
Pintou mais autoretratos que qualquer outro artista entre Durer e Rembrandt.
Estas peças, as suas pinturas, eram "jóias" de colecção que se ofereciam, trocavam e colecionavam ao mais alto nível social.
Sofonisba, porque nobre e pelo seu status social não podia vender nenhuma das suas obras. Assim o círculo em que se movia permitia-lhe uma visibilidade pouco comum a uma artista mulher mas por outro lado retirava-a do "mercado" da competição das comissões e vendas.
Neste autoretarato de fundo verde está escrito o seguinte:
Sophonisba Angussola vir[go] ipsius manu ex [s]peculo depictam Cremonae" (Pintado de um espelho, pela sua mão Sofonisba Anguissola, virgem de Cremona)
Temos então assim alguns desses autoretratos e em baixo um curioso retrato duplo em que aparece com o seu mestre Campi, ambos de negro, à boa maneira dos cortesãos (homens) da época. Dez anos depois, com um toque de ironia e de ternura a pupila pinta o mestre a pintá-la a ela e ela é indubitavelmente a figura central.
A excelência obtida no muito que pintava vale-lhe da parte de escritores e poetas do seu tempo o título de " IL Miracolo di Natura"
domingo, 25 de novembro de 2012
Da Arte
A Arte é feita de espantos e descobertas; nasce do nosso humanismo, manchada pelas nossas angústias e descrenças, por isso humana, por isso intemporal, por isso capaz de resistir aos retalhos da História destruidora de civilizações.
Fica, sempre, altiva e imortal, mutilada e perene como prova da amplitude de todas as emoções humanas.
Aqui falarei de Arte, sempre de arte, preferencialmente numa visão de Mulher sobre a arte e sobre as mulheres que fizeram Arte. Tantas e tão excelentes, tantas com tão pouca voz. Será um percurso diferente, de desvendar e de género, feito de um modo informal. Espero que usufruam tanto a ler-me quanto eu espero em escrever.
Também me escreverei um pouco e irei partilhando um portfolio de pinturas, desenho e gravuras que tanto amo.
De mim fica então para depois...
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